quarta-feira, 2 de maio de 2012

QUE MÚSCULO!



 
   Elyza tinha tanta " espinha" no rosto, que se fosse contar, tornar-se-ia um gesto tão cansativo como contar estrelas.
   Para contar estrelas, apareceria verruga na ponta do dedo! Verruga ao apontar para uma estrela, ao contá-las?
   Elyza era uma das primeiras alunas em sua escola. Problemas de Matemática, etc, para ela tinham fácil solução (será?), mas...
   - Mãe, eu não sei mais o que faço com meu rosto! Já passei aquele creme francês, não adiantou nada e...
   Filha querida, vamos fazer o que a Anália falou, pra ver se adianta...
    Ceifunda, mãe da Elyza, costureira, tinha outra filha - Rhagyna - que não gostava muito. Seu doce predileto era a Elyza. E como colocava açúcar no seu " docinho" - Elyza era a "Embaixatriz das Usinas Refinadas e Fétidas" de toda cana-de-açúcar de Cuba. Enfim, era um treco muito doce...(Um uqui doce, como diria Xitão, que invertia tudo)... 
   E de fato, fez mesmo a receita da Anália! Anália era sem definição, e, seu diagnósticos e receitas eram aceitas pela burguesia hipócrita...
   E de fato fez mesmo! E como deve ser dolorido! Tirar sangue da veia para colocar no músculo!
   E que músculo!
   Hoje um ml de sangue, amanhã dois e assim por diante até dez...
   Tirava da veia e colocava no músculo! E que músculo! Deve ser uma bela... Ah, que derrière! Ela e sua mãe Ceifunda eram bonitas de faces e belas de costas...
   Quem fazia esta delicada aplicação, sabia de seu resultado, às vezes negativo! Ah, que farmacêutico  Era naquela época   o profissional mais invejado de Torrinha! Que seringa! Que agulha!
    Ah! seu eu fosse farmacêutico! Ah! eu queria ser aquela agulha,
eu queria penetrar naqueles dois montes todo dia!
   Que belo músculo!
   Agora, Elyza está às voltas com novo método!
   Será que dará resultado, mãezinha???
   Faz vacina da própria espinha, isto é, do pus! Não é mais na farmácia! É numa clínica!
    Será que está colocando no músculo? Que músculo!
    Ela abandonou a farmácia e frequenta agora a clínica!
    O farmacêutico,  atualmente, está com depressão internado num sanatório...Está sem inspiração nenhuma....

Torrinha, 1965
Publicado no Recanto das Letras em 01/09/2013

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