segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

LADO a LADO

  
                         AVE
Ave era quase cega, voar seu entrave,
vivia triste, perdia a identidade de ave.

Não tinha alento. Ave andava ao vento,
num andar bem lento pelo seu caminho.
Perdida, não tinha nem seu próprio ninho.

Cada tentativa de voo, ficava exangue,
brotava em seu olho uma gota de sangue!
Uma gota, que pena! Ave tão pequena!

Vivia ao defeito presa, era indefesa!
Encontrou numa manhã, sua irmã,
sua parceira, sua amada e sua guardiã!

Ave encontrou sua guia, sua alegria
e voou tranquila com a companheira
a guiar seus sonhos, a vida inteira!

                        EU
Eu andava só, era um ser sem amor,
vivia triste, já não era mais um ser.

Não tinha alento. Andava ao vento,
num andar lento pelo meu caminho.
Vida vazia! Eu andava tão sozinho!

Cada passo era de morte, de lástima,
nasciam em meus olhos lágrimas.
Que falta de sorte! Tristeza máxima!

Ar cansado! Caminho acidentado!
O sol brilhou mais, em uma manhã,
encontrei meu par, minha irmã.

Ela começou a nortear meus passos.
Quanto equilíbrio tive em seus braços!
Hoje as duas aves voam lado a lado.
Hoje tenho minha amada ao meu lado.

Torrinha, 26/02/1968
Publicado no Recanto das Letras em 16/07/2013

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